Biblioteca Pública Municipal Maria José Arantes

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A Biblioteca Pública Municipal “Maria José Arantes” de Córrego Fundo foi criada em dezembro de 2006. Há em seu acervo obras de literatura, livros de referência, livros didáticos e periódicos. Seu horário de funcionamento é das 07 às 13 horas, nas segundas, quartas e sextas-feiras. Já nas terças e quintas-feiras, das 11:30 às 17:30 horas.

A Biblioteca Pública Municipal “Maria José Arantes” fica localizada na Rua Padre Remaclo Fóxius, nº 21, Centro.

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Maria José Arantes (Izé da Maria Rosa) denomina a primeira Biblioteca Pública de Córrego Fundo

 

Ela era uma exímia contadora de histórias. As bíblicas então, sabia de cor. Afinal já lera a bíblia infinitas vezes, nas mais variadas versões. Falava do fim do mundo, descrito em um dos tantos livros da bíblia, como falava do cometa Halley, cuja passagem presenciou quando criança: com uma dose extra de mistério e orgulho. Afinal quem, na sua idade, dispunha de tanto conhecimento, tanta vivacidade? Chamava-se Maria José Arantes e era conhecida como Izé da Maria Rosa. Nasceu no início do século passado, no dia 31 de julho de 1900 e morreu serenamente em 6 de setembro de 2002. Carregava em seus ombros largos uma carga de cultura e informação digna de qualquer doutor. Centenária, foi depositário da cultura da nossa sociedade. Em cem anos de vida guardou e contou todas as histórias do lugar. Ao morrer levou consigo conhecimentos arraigados em nossos primeiros anos de história. Conhecia desde os causos fantásticos dos nossos antepassados às tramas enigmáticas das colchas tecidas em teares. Durante mais de um século, as mãos hábeis da tecedeira escreveram com destreza, apesar da falta de lápis e papel. Os pés descalços ou amparados pelas velhas alpercatas andaram por muitos caminhos. Ela jamais deixou que a falta de recursos lhe roubasse a sabedoria. Valorizava a formação educacional e tentava supri-la através da busca solitária pelas páginas dos livros. Em tempos difíceis, quando nem bibliotecas havia em Córrego Fundo, ela mantinha sua minúscula biblioteca, valorizando a instrução obtida por meio dela, tanto quanto o conhecimento

 recebido nos longos anos de vida. Pacientemente ajudou a bordar cada ponto na trama da nossa história. Durante toda a vida, fez questão de preservar a cultura córrego-fundense e imprimiu essa missão em cada um dos 11 filhos, 51 netos, 69 bisnetos e 5 tataranetos. A todos eles contou histórias de lutas, vitórias, coragem e perseverança. Nos mundos que ela visitava através da leitura, os idosos eram respeitados e reverenciados pelos seus valores e conhecimento. Tinha, portanto, perfeita consciência de sua superioridade, frente aos jovens que nasciam e morriam, enquanto ela continuava lendo. Gabava-se de saber ler e escrever e, principalmente, de não precisar de óculos para isso. Já beirando um século de vida, recebia um livro para ler como quem recebe um tesouro. Seriam mais outras tantas páginas que ela descobriria ávida de tanta leitura, página por página. Ela falava então com a calma e a tranquilidade que só os longos anos bem vividos proporcionam: “Hoje é muito fácil aprender a ler. Até em uma lata de óleo você encontra letras e palavras”. “’E acrescentava orgulhosa: “Minha mãe colocou meus cinco irmãos e eu na escola. Só eu aprendi a ler.’”. Ela tinha 102 anos e morreu sorrindo. Leu até a última página.

Texto de Maria Aparecida Leal
Jornalista e neta de Maria José Arantes

 

 

 

Publicado em: 30 de outubro de 2013